Projeto Rede CALA 2015-16
PROPOSTA/JUSTIFICATIVA - PROJETO Rede CALA
O projeto Rede CALA se contextualiza a partir do processo criativo de CALA. Mediado por objetos e proposições direcionadas aos transeuntes de diversas locações da cidade de São Paulo, foram criados procedimentos/ações poéticas relacionadas ao tema Estudos sobre Silêncio, e as materialidades produzidas nessas ações foram trazidas para os laboratórios de criação, sendo absorvidas para a concepção e composição coreodramatúrgica do espetáculo.
PROPOSTA/JUSTIFICATIVA - PROJETO Rede CALA
O projeto Rede CALA se contextualiza a partir do processo criativo de CALA. Mediado por objetos e proposições direcionadas aos transeuntes de diversas locações da cidade de São Paulo, foram criados procedimentos/ações poéticas relacionadas ao tema Estudos sobre Silêncio, e as materialidades produzidas nessas ações foram trazidas para os laboratórios de criação, sendo absorvidas para a concepção e composição coreodramatúrgica do espetáculo.
CALA elucida, ainda que
tendo se configurado como uma obra de dança “fechada”, a constatação de que
há muito a se descobrir. Ao nos debruçarmos cuidadosamente sobre a obra
finalizada e retomarmos todo o trajeto percorrido ao longo da pesquisa, o
Núcleo se deparou com uma ampla gama de possibilidades de desdobramentos de
sentidos, de corporalidades, de universos a serem expandidos e esmiuçados.
Existem muitas camadas a serem investigadas. Camadas que se sobrepõem, se
mesclam e se reconfiguram, e dentre as inquietações e necessidades emergidas
neste ínterim, o Núcleo, no projeto Rede CALA, aponta seus esforços
de pesquisa para a investigação das possibilidades de expansão da
experiência estética em relação principalmente...
...ao TEMPO - prolongamento, dilatamento, efemeridade e
permanência:
“É preciso
ampliar os horizontes da temporalidade.(...). Em grego clássico há mais de
uma palavra para se referir ao tempo. A mais conhecida entre nós é “chrónos”,
que designa a continuidade de um tempo sucessivo. (...). Mesmo que “chrónos”
tenha sido a palavra mais bem-sucedida e comum entre nós, não é a única
para designar o tempo. Outra é “kairós”, que significa medida, proporção e,
em relação com o tempo, momento crítico, temporada, oportunidade. Uma
terceira palavra é “aión”, que designa, já em seus usos mais antigos, a
intensidade do tempo da vida humana, um destino, uma duração, uma
temporalidade não-numerável nem sucessiva, intensiva.”(Walter Kohan)
... e à dualidade IMAGEM E PALAVRA - deslocamento e
distanciamento entre imagem e palavra.
“Cada
palavra potencialmente é uma imagem, e cada imagem potencialmente é uma
palavra. Não é possível imaginar antecedência. Foi primeiro a imagem? Foi
primeira a palavra? Não. Elas estão juntas na discordância de tudo, as
palavras e as coisas, as palavras e as imagens. E são nesses espaços onde
elas não calçam, que nós trabalhamos no mundo da arte. Mas é importante
saber que toda a imagem sobrevive na palavra de outro que fala dessa imagem, e,
toda palavra sobrevive na imagem que essa palavra potencialmente constrói.
Então são legados que se reproduzem no desencontro de palavras e coisas”.(Luiz
Pérez-Oramas)
O Projeto Rede CALA se
configura em uma série de ações que fomentam esta pesquisa em dança, e
criam uma teia de experiências e proposições que se relacionam com os
conteúdos de pesquisa citados acima. Propõe a Circulação de CALA, a
realização dos Procedimentos Obra, da Rede de Transduções,
dos Workshops, das 24 horas Obra Procedimento e Exibição da
Produção Audiovisual.
A Circulação de
CALA propõe apresentações gratuitas do trabalho em diversos equipamentos
públicos da cidade de São Paulo, retomando o diálogo entre obra, espectador
e espaços públicos.
Os Procedimentos Obra
serão desdobramentos das matrizes de corpo que compõem CALA, em uma
relação de prolongamento e mudança de configuração espacial, como objeto
de investigação de fisicalidades, da relação entre obra e espectador, e
obra e espaço público. As matrizes que serão trabalhadas são batizadas como:
Ostrossauro, Ímã, Vaca, Fala Surda e Marcha. Novos diálogos com a rua serão
estabelecidos, não mais mediados por objetos e perguntas, mas por
proposições e estudos de corpo.
A Rede de
Transduções[1]
consiste em uma proposta de instalação em que imagens, palavras e corpos
são investigados simultaneamente. Acerca do estudo das materialidades
adjacentes à obra CALA: textos, desenhos, fotografias e depoimentos, serão
associados a novos procedimentos para a construção de corpos que se encontram
em constante investigação, movimento e elaboração.
Os Workshops viabilizam
o encontro e a aproximação entre o Núcleo e público interessado, e neste
caso, não se reduzem apenas a um trânsito de informações e conteúdos
pertinentes à dança, mas, movimentam um espaço de criação que por sua vez,
reverbera em todas as outras ações do projeto.
24 horas Obra
Procedimento retoma um momento importante e disparador do processo de CALA,
onde as integrantes vivenciaram 24 horas de convivência em silêncio absoluto.
Aqui, buscamos propor algo como fechamento de um ciclo, estabelecendo um
ambiente vivo que possa ser acessado, freqüentado, habitado por artistas e
público, durante 24 horas, onde todas as materialidades levantadas estarão
expostas e no qual as pesquisas em dança serão apresentadas.
Desta ação será
produzido um Material Audiovisual que retrate, sob o ponto de vista de
um artista visual convidado, a experiência criada. Tal material será exibido
gratuitamente, seguido de “bate papo” na presença dos artistas envolvidos,
para os mesmos locais em que realizamos as apresentações de CALA e os Workshops,
fechando o ciclo de ações propostas.
As propostas citadas
acima e detalhadas a seguir são coexistentes e não conseqüentes. As
elaborações presumem mergulho e aprofundamento no estudo, sem a necessidade
de assumir uma organização cronológica rígida, permitindo que o trabalho
seja a todo tempo, permeado por diversas percepções e pontos de vista das
integrantes do Núcleo.
Todas as ações supracitadas nos indagam sobre as distâncias e
as potencialidades imbricadas na relação entre palavra e imagem, permanência
e efemeridade. As conexões e universos simbólicos que emergem do deslocamento
entre imagem e palavra são o ponto de convergência para a elaboração de
novas experiências de diálogo.
OBJETIVOS
GERAIS
- Dar continuidade às atividades do Núcleo MIRADA,
possibilitando assim a manutenção e aprofundamento da pesquisa de
linguagem que o mesmo vem desenvolvendo desde sua criação em 2010.
- Ampliar o acesso à produção
em dança e às atividades relacionadas à mesma;
- Fomentar a dança enquanto
área do conhecimento e linguagem permeável;
- Propiciar espaços de
aprimoramento técnico, troca artística e compartilhamento de processos
criativos;
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Circular o espetáculo CALA em
10 espaços públicos da cidade de São Paulo;
- Promover 10 workshops nos
mesmos locais da apresentação;
- Realizar os Procedimentos Obra em 7 versões com 7 convidados;
- Realizar a Rede de
Transdução;
- Criar e realizar a 24 horas Obra Procedimento;
- Produzir um vídeo de, no mínimo, 30 minutos;
- Exibir o vídeo em 10 Sessões Cinema com Bate Papo;
- Realizar aulas para manutenção e aprimoramento técnico/corporal;
1. Circulação de CALA:
O trabalho será
apresentado gratuitamente em 10 equipamentos públicos da cidade de São Paulo,
mantendo seu formato original, que pode ser acessado pelo link: https://vimeo.com/117873967.
2. Workshop:
Resumo: Oficina de procedimentos de
investigação com base no treinamento criativo do espetáculo CALA.
Público alvo: artistas da dança e do teatro
interessados na proposta. Acima de 14 anos.
Carga Horária: 4 horas.
Roteiro:
1.
Apresentação das integrantes do Núcleo MIRADA e da proposta da oficina.
2.
Preparo: exercício conduzido de preparação e organização corporal que trabalham
acionamento do centro de força, mobilidades articulares e alongamento muscular.
3.
Aquecimento: prática de improvisação individual utilizada pelo Núcleo MIRADA no
início de seus ensaios. Existe uma
sequência de padrões de movimento que são explicitadas no inicio da atividade
para serem exploradas por um período aproximado de 30 minutos em silêncio. Não
há uma interferência das condutoras durante o exercício, já que a proposta é
que cada participante percorra as etapas estabelecendo uma relação de
"escuta" com o coletivo.
4. Jogos
de relação e percepção espacial:
- jogo
de lançamento de bolas (de tênis).
- Ímã
-
Espelho
-
Relógio
Intervalo
5.
Exercício de improvisação em trios a partir de estímulos táteis.
OBS:
Cada participante passará pelos 3 papéis: estimulador, receptor, testemunho.
6. Exercício de improvisação em trios a partir
de estímulos verbais.
OBS:
Cada participante passará pelos 3 papéis: estimulador, receptor, testemunho.
7.
Exercício final de composição à partir de improvisações coletivas, envolvendo
todos os participantes, no qual os fundamentos dos exercícios anteriores serão
matéria prima do jogo. O Núcleo será mediador nesta proposição criando algumas
regras norteadoras. Trabalharemos com a ideia de composição aberta na qual
todos os participantes poderão transitar pelas
funções de propositor e plateia.
8.
Fechamento: finalização com roda de diálogo sobre esta experiência.
3. Procedimentos Obra:
Consiste em 5 matrizes
corporais pré-selecionadas e 2 em aberto. Tais matrizes tem origem na obra CALA,
e cada uma será explorada em lugares públicos a serem definidos. Suas
temporalidades serão investigadas de formas distintas das que acontecem durante
a apresentação da obra.
Para cada uma dessas
matrizes teremos um artista convidado que realizará uma transdução
utilizando um dos dos seguintes objetos: máquina fotográfica analógica,
gravador, máquina de escrever e papel para desenho. Serão ao todo 7 artistas.
Tanto a experiência
quanto o material gerado por esses artistas alimentarão o processo de
elaboração da Rede de Transdução e da composição dos próximos
procedimentos, bem como farão parte das 24 horas Obra Procedimento.
10 Performers serão
convidados para dar corpo aos Procedimentos Obra.
A seguir, as cinco
matrizes selecionadas:
Ostrossauro. Três corpos tornam-se um. Esse “animal”,
composto por três pessoas, vai lentamente transitando pelo espaço, assumindo
distintas formas. Dissolução da pele, das bordas. Um ser que se reinventa e
se integra ao espaço e suas texturas.
Ímã. Os três corpos suspensos, atentos e
conectados espacialmente. É um jogo espacial, com regras bem definidas, cujo
enfoque está em manter o estado de tensão, a escuta e a relação espacial.
Cada ação, sutil ou extravagante, é estímulo e reverberação entre os
corpos.
Fala Surda. O corpo entra em um estado de fala e
movimento, compulsivo e verborrágico, variando níveis e planos em tempo
acelerado. As falas são estimuladas pelos textos originados nas ações de rua
e apresentações de CALA.
Vaca. Um corpo pesado, com as mãos semi cerradas
e os olhos que simplesmente olham, sem julgamentos ou intenções.
Deslocamentos pequenos, como de um pequeno rebanho, vão acontecendo.
Movimentos e sons do espaço estimulam a percepção e conduzem a atenção dos
corpos.
Marcha. Um trajeto que se repete pelo espaço é
realizado com uma marcha grande e brusca que gera um som uníssono e ritmado,
produzido pelo impacto da bota com o chão. As mudanças de direção são
marcadas pela voz, incisiva, daquela que está temporariamente a frente da
marcha. A parada é imediata. Um minuto de silêncio ofegante se instaura,
enquanto a memória do som produzido anteriormente vai se dissipando.
4. Rede de Transdução:
Uma rede de regras para
testar as possibilidades de transformação de uma energia (artística) em uma
energia (artística) de natureza diferente.
O experimento consiste
em partir das experiências realizadas (apresentações de CALA e seus
respectivos materiais gerados; Workshops; Procedimentos Obras e laboratórios
em sala) para gerar uma rede de transduções simultâneas, que será
organizada e aberta ao público.
Esta instalação
funcionará em rede, de forma tal que todas as ações sejam interligadas,
interdependentes e disparadoras umas das outras.
Temos investigado alguns
procedimentos isolados como, por exemplo, enquanto uma pessoa realiza a Fala
Surda, a outra, sentada de costas, compõe um texto a partir do que escuta.
Este texto, sendo filmado ao vivo, é projetado em outro espaço e estimula o
improviso corporal de outra performer.
A proposta é dar
continuidade à essa rede, descobrir possibilidades de conexões e
transformações até que a primeira pessoa – a da Fala Surda – receba
um novo estímulo que interfira em sua ação, gerando um experimento que se
retroalimente.
5. 24 horas Obra Procedimento:
Propõe a construção
de um espaço aberto ao público, no qual as integrantes do Núcleo estarão
presentes, em ação. Os materiais coreográficos, as materialidades
provenientes de todo o processo, comporão um ambiente em que o estado de
relação continua permeável e é construído naquele determinado momento. O
local de realização desta ação será escolhido conforme o desenvolvimento
do projeto.
6. Exibição de Material Audiovisual e Bate Papo:
Será produzido um
vídeo que retrate, sob o ponto de vista de um artista visual, a experiência
criada. Tal material será exibido gratuitamente seguido de “bate papo”, para
os mesmos locais em que realizamos as apresentações de CALA e os Workshops,
fechando o ciclo de ações propostas. Pensamos o vídeo como linguagem de
movimento e encadeamento de acontecimentos, como a materialização do
período/ processo, que deixa rastros, e se perpetua por meio de recorte de
olhar.
7. Aulas de manutenção e aprimoramento técnico e artístico:
Serão convidadas 5
profissionais para ministrarem aulas, que serão abertas ao público
interessado, com limite de vagas para 10 pessoas.
Referências Bibliográficas
- KOHAN, Walter O.
Infância, estrangeiridade e ignorância. Ensaios de filosofia e educação.
Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
- 30
bienal - Luis Pérez-Oramas - Falar Imagens - educativo bienal
http://www.emnomedosartistas.org.br/30bienal/pt/centroMidias/Paginas/video.aspx?video=833
[1]
“2 FÍS
processo pelo qual uma energia se transforma em outra de natureza diferente.”
Neste projeto, este conceito é uma apropriação poética que o Núcleo
escolheu para fundamentar o procedimento “Rede de Transduções”.
1o RELATÓRIO DO PROJETO “REDE
CALA” CONTEMPLADO COM O PROGRAMA MUNICIPAL DE FOMENTO À DANÇA PARA A CIDADE
DE SÃO PAULO
NÚCLEO ARTÍSTICO: Núcleo MIRADA EDIÇÃO:
18a EDIÇÃO
ETAPA(s):PRIMEIRA
PROJETO:Rede CALA
ETAPA(s):PRIMEIRA
PROJETO:Rede CALA
LOCAIS:Ateliê OÇO e Sidney Amaral -
Avenida Gustavo Adolfo, 500, Vila Gustavo – Tucuruvi;
Centro de Referência à Dança de São Paulo (CRDSP) - Baixos do Viaduto do Chá, s.n. – Centro;
Centro de Referência à Dança de São Paulo (CRDSP) - Baixos do Viaduto do Chá, s.n. – Centro;
Galeria Olido - Avenida São João, 473 –
República
Escola Municipal de Inciação Artística (EMIA) - Rua Volkswagem, s.n. – Jabaquara.
Escola Municipal de Inciação Artística (EMIA) - Rua Volkswagem, s.n. – Jabaquara.
Introdução
O Núcleo
MIRADA organiza-se de forma não hierárquica buscando o consenso nas decisões
e escolhas que envolvem o desenvolvimento de suas pesquisas em dança. Em seus
processos artísticos, inquietações que permeiam as artistas dão corpo a um
assunto comum, que é trabalhado nos laboratórios de criação, cuja
característica central reside na qualidade de presença do encontro. Nestes
espaços de compartilhamento, a condição primeira é a abertura para o
repertório individual em relação ao assunto disparador e ao que ele
reverbera. É neste diálogo que emergem os apontamentos para as propostas de
investigação da fisicalidade, dos impulsos de movimento e da dramaturgia.
A
trajetória do Núcleo MIRADA se constrói nos trabalhos: Mirada (2010/11),
Epifanias Urbanas (2012), Silêncios Humanos (2012) e CALA (2013/14). CALA, o
mais recente trabalho do Núcleo, foi o resultado de um processo de pesquisa,
que abarcou diversas experiências vivenciadas até então, e é da necessidade
de continuidade desse projeto que nasce Rede CALA
O Projeto
Rede CALA se configura em uma série de ações que fomentam esta pesquisa em
dança, e criam uma teia de experiências e proposições que se relacionam com
os conteúdos de pesquisa citados acima. Propõe a Circulação de CALA, a
realização dos Procedimentos Obra, da Rede de Transduções, dos Workshops,
das 24 horas Obra Procedimento e Exibição da Produção Audiovisual.
A Circulação
de CALA propõe apresentações gratuitas do trabalho em diversos equipamentos
públicos da cidade de São Paulo, retomando o diálogo entre obra, espectador
e espaços públicos.
Os
Procedimentos Obra serão desdobramentos das matrizes de corpo que compõem
CALA, em uma relação de prolongamento e mudança de configuração espacial,
como objeto de investigação de fisicalidades, da relação entre obra e
espectador, e obra e espaço público. As matrizes que serão trabalhadas são
batizadas como: Ostrossauro, Ímã, Vaca, Fala Surda e Marcha. Novos diálogos
com a rua serão estabelecidos, não mais mediados por objetos e perguntas, mas
por proposições e estudos de corpo.
A Rede de
Transduções consiste em uma proposta de instalação em que imagens, palavras
e corpos são investigados simultaneamente. Acerca do estudo das materialidades
adjacentes à obra CALA: textos, desenhos, fotografias e depoimentos, serão
associados a novos procedimentos para a construção de corpos que se encontram
em constante investigação, movimento e elaboração.
Os
Workshops viabilizam o encontro e a aproximação entre o Núcleo e público
interessado, e neste caso, não se reduzem apenas a um trânsito de
informações e conteúdos pertinentes à dança, mas, movimentam um espaço de
criação que por sua vez, reverbera em todas as outras ações do projeto.
24 horas
Obra Procedimento retoma um momento importante e disparador do processo de
CALA, onde as integrantes vivenciaram 24 horas de convivência em silêncio
absoluto. Aqui, buscamos propor algo como fechamento de um ciclo, estabelecendo
um ambiente vivo que possa ser acessado, freqüentado, habitado por artistas e
público, durante 24 horas, onde todas as materialidades levantadas estarão expostas
e no qual as pesquisas em dança serão apresentadas.
Desta
ação será produzido um Material Audiovisual que retrate, sob o ponto de
vista de um artista visual convidado, a experiência criada. Tal material será
exibido gratuitamente, seguido de “bate papo” na presença dos artistas
envolvidos, para os mesmos locais em que realizamos as apresentações de CALA
e os Workshops, fechando o ciclo de ações propostas.
ETAPA REALIZADA NO MOMENTO
ETAPA 1 - meses de 01 a 07 (1a Etapa: 29/06/2015 à
28/01/2016)
(Ensaios, Circulação CALA, Workshop, Procedimentos Obra, Aulas Abertas)
(Ensaios, Circulação CALA, Workshop, Procedimentos Obra, Aulas Abertas)
- Adequação orçamentária (caso necessário);
- Contratação de equipe;
- Agendamento de pauta para as apresentações do espetáculo CALA
e dos Workshops;
- Treinamento e preparação corporal;
- Ensaios de repertório - CALA;
- Contratação de assessoria de imprensa;
- Divulgação das aulas abertas;
- Realização das aulas abertas ministradas pelo Núcleo MIRADA e
pelos profissionais convidados - Módulos 1 e 2;
- Preparação de material gráfico;
- Divulgação da circulação do espetáculo CALA e dos Workshops;
- Manutenção do blog do Núcleo;
- Pesquisa e estudo de matrizes coreográficas em sala de ensaio;
- Realização das 10 apresentações do espetáculo CALA e dos 10
Workshops em equipamentos públicos da cidade de São Paulo;
- Preparação dos Procedimentos Obra: escolha dos locais de
realização, trâmites burocráticos relativos à autorizações de
utilização de espaço público, escolha e convite dos profissionais que
irão participar dos procedimentos;
- Realização dos Procedimentos Obra: 1, 2, 3, 4, 5.
- Pagamentos, acompanhamento financeiro;
- Preparação de relatório físico-financeiro;
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA PRIMEIRA ETAPA
José Renato e Larissa Verbisck – Produtores.
Nesta
Primeira Etapa do Trabalho realizamos as seguintes atividades: ensaios,
circulação do Espetáculo CALA, realização dos workshops, 2 módulos de
aulas abertas de profissionais convidados.
Os ensaios do Núcleo MIRADA totalizaram
nessa etapa18 horas semanais, na seguinte rotina de trabalho:
- Segundas-feiras, das 13h às 18h, no Ateliê OÇO
e Sidney Amaral
- Quartas e sextas-feiras das 10h as 13h, o Núcleo foi artista-residente no CRD
- Quarta-feira das 14h às 18h na Galeria Olido
- Sextas-feiras das 14h as 17h na EMIA.
- Quartas e sextas-feiras das 10h as 13h, o Núcleo foi artista-residente no CRD
- Quarta-feira das 14h às 18h na Galeria Olido
- Sextas-feiras das 14h as 17h na EMIA.
O Ateliê foi um espaço locado para os ensaios e foi para o
Núcleo como um retiro de silêncio.
Localizado no bairro Tucuruvi em uma região residencial e
afastada de uma grande agitação urbana, era uma local de concentração e
pesquisa. Circular por outros 3 espaços na rotina de ensaio foi também
importante, e inclusive, nessa parceria, apresentamos e realizamos os workshops
em dois desses locais.
A circulação do Espetáculo CALA e workshops foi pautada nos
equipamentos públicos da cidade de São Paulo e foi realizada nos seguintes
espaços:
- Casa de Cultura de Santo Amaro – 1
apresentação e 1 workshop;
- Tendal da Lapa – 1 apresentação e 1
workshop;
- CEU Casa Blanca – 1 apresentação e 1 workshop;
- CEU Heliopolis – 1 apresentação e 1 workshop;
- CEU Casa Blanca – 1 apresentação e 1 workshop;
- CEU Heliopolis – 1 apresentação e 1 workshop;
- CEU Alvarenga – 1 apresentação e 1
workshop;
- CEU Pera Marmelo – 1 workshop;
- Núcleo Luz – 1 apresentação e 1 workshop;
- Universidade Anhembi Morumbi – 1 apresentação e 1 workshop;
- CEU Pera Marmelo – 1 workshop;
- Núcleo Luz – 1 apresentação e 1 workshop;
- Universidade Anhembi Morumbi – 1 apresentação e 1 workshop;
- CRDSP
– 1 apresentação e 1 workshop;
- Galeria Olido – 2 apresentações e 1
workshop.
Em cada
equipamento público buscamos trabalhar em parceria com o Programa Vocacional,
artistas-orientadores e artistas-vocacionados, assim como na Universidade
atuamos com os estudantes e, no Núcleo Luz com os aprendizes, com o objetivo
de atingir o maior número possível de pessoas no espetáculo e no workshop,
já que sabemos que em muitos desses locais não há uma demanda espontânea
para a participação de atividades culturais.
Quanto a
não realização de uma das atividades no CEU Pera Marmelo, isso aconteceu
devido a um cancelamento da data de espetáculo as vésperas da apresentação
por conta de um ponto facultativo. A comunicação do equipamento conosco foi
falha e por isso acabamos por não remarcar o evento. A decisão do Núcleo
MIRADA foi então a realização de 2 apresentações em outro espaço, e o
escolhido para tal foi a Galeria Olido.
As aulas
abertas com profissionais convidados aconteceram com as artistas Clarice Lima e
Andreia Yonashiro.
Clarice
Lima, trouxe um intensivo de aulas da técnica contemporânea Flying Low para o
Núcleo e mais 10 artistas selecionados para participar da oficina. Foram 4
aulas, nos dias 19/08, 21/08 2/09 e 4/09, totalizando 10 horas de atividade que
ocorreu no CRDSP.
Andreia
Yonashiro, com sua oficina para o fazer coreográfico, compartilhou propostas
práticas e teóricas com integrantes do Núcleo e não-integrantes
selecionados, nos 30/11, 2/12, 4/12, 7/12, 9/12, 11/12, no CRDSP e no Ateliê,
com a carga horária de 18 horas.
Reflexões
das integrantes do Núcleo MIRADA
Liana Zakia
O Projeto
Rede CALA teve entre os meses de julho e janeiro de 2015 suas ações focadas
na realização da série de 10 apresentações da obra “Cala”, acompanhadas
por 10 oficinas sobre o processo de criação do mesmo, que ocorreu em
equipamentos públicos da cidade de São Paulo. Paralelo à isso, o Núcleo
manteve sua rotina de trabalho, que englobou preparação e treinamento
técnico expressivo, e também os workshops ministrados por convidados e,
abertos ao público por meio de inscrições prévias.
Com o
advento da continuidade do estudo de Cala e suas qualidades poéticas e de
movimento, tivemos a oportunidade de nos debruçarmos no material já
existente, tentando encontrar novos caminhos e resoluções na busca de gerar
outras significações, tanto para nós criadoras, quanto para o público.
Neste
sentido, os estudos em sala de ensaio foram muito reveladores, pois promoveram
o espaço de pensar sobre nossos modos de operar criativamente, ou seja, de
criar. E um dos princípios do nosso trabalho é que trabalhamos em busca de
“estados” de presença, ou “estados” de corpo que, aos poucos tomam forma, geram
células coreográficas e que depois, são reorganizadas e ressignificadas, por
meio de procedimentos criados por nós. Assim, os materiais são compostos, às
vezes, utilizando-se da memória de um estado corporal, ou da própria
sensação gerada pela forma percorrida.
Temos o
hábito de levantarmos materiais, geralmente em investigações individuais,
que se dão simultaneamente, ou em procedimentos em que nos alternamos em
papéis de espectador, provocador ou captador de imagens com câmera.
Portanto, sentimos que a todo tempo há
construção e criação, ainda que estejamos dedicadas ao estudo de uma
trabalho já concluído.
Tais
reflexões sobre os estados de presença e o acesso ao imaginário se dão de
modo diferente para cada uma de nós. A sensação atrelada ao movimento, em
alguns momentos, gera uma criação de imagem imediata para algumas de nós, e
outros momentos, o mergulho é mais profundo na sensação do corpo em
movimento. Os olhos fechados, uma prática recorrente nos nossos momentos de
improvisação, de alguma maneira colaboram descolamento do espaço concreto no
entorno, e auxilia no mergulho das imagens e sensações.
Existe um
exercício que temos feito que é simples e muito efetivo para pensarmos essas
questões e pesquisarmos infinitamente: uma de nós realiza pressões com as
mãos no corpo da outra, que responde com uma pontualidade naquela força
exercida, que pode ser tanto uma resistência à pressão, quanto um fluxo em
favor da mesma.
Isso gera
tantas formas inusitadas, que aos poucos, o diálogo entre esses corpos se
afina, e quem estimula começa a ouvir atentamente o que e onde o corpo da
pessoa quer fazer/ chegar. É um corpo permeável, atento que se encarrega de
adentrar um estado de investigação, onde por si só, pode resolver os
caminhos coreográficos e criar desenhos cheios de intenção e intuição pelo
espaço.
Este é
apenas um exemplo de procedimento, mas denota a importância de que tais modos
de trabalho geram questões e um constante aprendizado, para pensarmos sobre
composição e nossos meios de reter e organizar as experiências de dança,
que nos são caras ao longo dos processos criativos.
Desse
modo, também abrem-se espaços para colocarmos umas às outras nossas vontades
futuras. E no meu processo, tive algumas palavras que me atravessaram bastante
e deixo aqui registradas: instabilidade, decomposição e desejo.
Assim
como nos ensaios, as apresentações são sempre únicas em suas
características, pois se tratam de um acontecimento, onde nós, nos
relacionamos com o espaço e público de um lugar específico. Isso fica muito
evidente no “Cala”, por ser um trabalho feito todo no silêncio, e por ser um
formato em que habitamos o espaço cênico junto com o público. Há o constante
desafio do modo como será organizado e como se dá no encontro com o público.
Isso
também ocorreu nas oficinas. Pensamos bastante sobre essa nossa propostas de
estarmos nos 10 lugares em momentos de diálogos diferentes: com espetáculo e
com aula.
Nos
questionamos sobre as parcerias junto aos equipamentos, e se de fato, esse tipo
de “estada” tão breve (duração de um workshop de 3 a 4 horas), movimenta ou
modifica o local de alguma maneira. O modo como fomos recebidos pelos
equipamentos muitas vezes foi muito desestimulante.
Inclusive
tivemos experiência de total descaso com o trabalho oferecido.
É claro,
que , percebemos que quando a parceria de fato acontece, se constroem pontes,
redes e se instauram processos de formação de público, de ampliação de
espaços de experiência e construção de saberes por meio da arte. Mas, ainda
sinto que estamos nas mãos de gestões localizadas que pouco se interessam
pelas propostas apresentadas, e que raramente presenciam esses eventos.
Como artistas
da dança, atuantes também em ambientes educacionais, sentimos que precisamos
repensar as propostas que vinculamos às nossas produções artísticas, muitas
vezes como “contrapartida”, para que sejam efetivas e não cumprimentos de
etapas de processo.
Importante
ressaltar que algumas das parcerias efetuadas com os Artistas Orientadores do
Programa Vocacional foram bem eficientes, alavancaram trocas e fortaleceram a
rede que buscamos pela riqueza dos encontros.
Outra
característica desta etapa foi que trabalhamos em 4 espaços de ensaio
distintos: CRD, Galeria Olido, Ateliê e EMIA. Esse trânsito foi bem potente,
promoveu um constante redimensionamento do lugar onde se dá o trabalho de
corpo e acredito que ampliamos nossas perspectivas artísticas quando
circulamos por ambientes distintos e seus entornos.
Também
foi de grande valia o encontro com os profissionais convidados a dar os
workshops, onde nós do Núcleo MIRADA podíamos conviver com outras pessoas,
também no papel de estudantes. Fazer aula, trocar ideias, observar e vivenciar
a descoberta de novos caminhos, se propôr a aprender um jeito novo, amplia
nossas bagagens e mais importante que isso, nos alegra
Elenita Queiroz
A
primeira etapa do Projeto REDE CALA foi cumprida com dedicação, suor, coragem
e sabor.
Dedicação
porque nós do Núcleo MIRADA, mergulhamos com toda nossa energia nesse
processo (assim como sempre o fizemos desde nossas primeiras criações
coletivas em 2010) com um sabor de conquista, de reconhecimento e de
responsabilidade mais aguçados dada a complexidade e duração do projeto em
questão. Quanto ao desenvolvimento das ações propostas, dedicamo-nos com
afinco primando pelo respeito ao nosso modo de organização interno, ao nosso
modo de estar e olhar para a dança e à nossa trajetória.
Foram
realizadas as 10 apresentações (circulação da Obra CALA), conjuntamente aos
workshops e ainda 2 módulos de aulas abertas com os profissionais Clarisse
Lima e Andreia Yonashiro. Esse conjunto de ações me remete imediatamente ao
suor. Suamos e suamos muito nesse ínterim. Dançando, jogando, criando,
experimentando... nos ensaios, nas aulas abertas, nos workshops... mas suamos
também e muito na tentativa de trabalhar em conjunto o tempo todo buscando
manter uma equipe coesa e colaborativa no que se refere às diferentes
funções (criadores/bailarinos, produção, arte gráfica, divulgação,
registros em vídeo e foto, etc). Suamos corpo e alma ansiando por encontrar
outros corpos com interesse no compartilhamento e na troca. Suamos juntos.
Essa
primeira etapa nos exigiu igualmente bastante coragem: para rever ideias e conceitos
previamente elaborados; para reverter situações complicadas como
cancelamentos de espaços pré agendados para as
ações; para lidar com descaso de alguns
equipamentos públicos no que se refere à assuntos como a parceria na
divulgação (dos espetáculos e das oficinas), e falta de trato na recepção
da equipe (técnicos e bailarinos); para encarar nossos receios e nossas
diferentes expectativas com relação ao trabalho; para compartilhar com
públicos diversos, escassos, sedentos, calados, vivazes, plateias cheias,
plateias debutantes... *
(* Faço aqui um adendo com relação à importante
parceria realizada com Artistas Orientadores e Vocacionados do Programa
Vocacional da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Ficou bastante
evidente a importância destes agentes para as ações do projeto Rede CALA
principalmente as realizadas nos CEUs, e Casas de Cultura tivessem uma adesão
e uma participação maior de público. Estas pessoas nos foram as maiores
parceiras divulgando, estando presentes nos workshops e apresentações,
partilhando conosco essa experiência.)
Para
lidar com o cansaço; para
superar as pequenas e múltiplas frustrações cotidianas que um projeto
artístico com estas características pode trazer uma vez tendo como lugar de
ação uma cidade com a magnitude de São Paulo e suas muitas e múltiplas
facetas; para lidar com os fins e os recomeços. Coragem.
E mais do
que tudo, esse breve/longo caminho trilhado na primeira etapa do projeto REDE
CALA teve sabor pois de tudo que fizemos, construímos, demolimos e partilhamos
saboreamos o cotidiano uns dos outros e suas belezas e dores e fragilidades e
duvidas e amores e suores.
Saboreamos,
junto à plateia de olhares generosos, o macio do queijo e o regozijo da
cachaça, o gosto de ir além do dito, o degustar de nós mesmos, nossas histórias,
trajetos e maravilhas, o deglutir de medos e insatisfações, o engolir seco e
amargo de um silêncio que ecoa e move.
Rede CALA
me veio com muito suor e fica em mim com o sabor de querer mais, me nutrindo
com a coragem para o salto e exigindo de mim ainda mais dedicação para seguir
rumo ao desconhecido.
Karime Nivoloni
Dos
preparos
Iniciamos
o projeto com três metas: a retomada do espetáculo Cala, o preparo das
oficinas que seriam ministradas ao longo da temporada das 10 apresentações e
a organização do primeiro workshop a ser realizado por um artista convidado.
O espetáculo e suas matrizes de movimento, suas qualidades de corpo. A
oficina, o compartilhamento de procedimentos que fizeram parte da elaboração
coreográfica. O workshop, um preparo do corpo para as necessidades do grupo. Três
objetivos que se retro-alimentaram. Retomar o trabalho, acessar memórias do
projeto, selecionar e organizar procedimentos que realizamos, pensar em
estratégias para compartilhar o processo com públicos distintos, testar,
trazer elementos do workshop ministrados pela artista convidada Clarice Lima
que contaminaram nossos corpos/pensamentos, deixar que o reencontro com esses
procedimentos modificassem o espetáculo, que se atualiza a cada
apresentação, novas soluções, outros sentidos emergem e passam a criar
outros significado. Uma sensação de encontrar outras camadas de algo que
acontece, frestas que revelam novas leituras (ou ainda não percebidas?),
outros sentidos que se estabelecem, mesmo que provisoriamente.
Dos pontos específicos
Para minha experiência alguns aspectos que emergiram e se fizeram relevantes:
1. Retomar Cala: hoje o corpo é outro, o trabalho está vivo. Algumas soluções cênicas e
Para minha experiência alguns aspectos que emergiram e se fizeram relevantes:
1. Retomar Cala: hoje o corpo é outro, o trabalho está vivo. Algumas soluções cênicas e
transições não faziam mais sentido. Sensação
de não estar resolvido. Necessidade de experimentar e testar outras
possibilidades, que, de alguma forma, também modificaram o próprio sentido do
trabalho. Repensar as relações que se estabelece com o público. Importa
notar que muitos dos insights vieram durante as oficinas, observando as pessoas
vivenciando os procedimentos que propusemos.
2. O workshop da Clarice. Além de preparar o corpo
para movimentos de intensidade, apontando soluções velozes para
transferências de peso e mudança de níveis espaciais, nos trouxe
referências e amplificou alguns dos procedimentos que já vínhamos
experimentando, em especial os exercícios de deslocamento em velocidade (Passing
Through) e as regras que vão criando
dinâmicas e situações variadas ao longo do experimento. Incorporamos essas
informações em nossa prática e também nas oficinas que compartilhamos ao
longo da temporada.
3. As oficinas. Organizar coletivamente o que seria
relevante compartilhar com o público interessado nos conduziu a uma reflexão
sobre o nosso próprio fazer e nas estratégias para, em um período de 3 ou 4
horas, criar uma situação na qual fosse possível criar um espaço de trocas
criativas, um ambiente de preparo e escuta corporal, de corpos disponíveis a
criação dentro da perspectiva do Núcleo Mirada. Nesta etapa, nos debruçamos
cuidadosamente no preparo deste material – talvez por todas também atuarmos
(ou termos atuado) como artistas educadoras em programas públicos e julgarmos
esse encontro tão importante quanto o da apresentação da obra. E mantivemos
uma escuta para manter a oficina viva. Olhar para as pessoas envolvidas,
presentes, como acolhê-las, como criar um ambiente no qual elas pudessem se
lançar às experiências que queríamos propôr. E também mantivemos vivo
esse fazer, testando soluções e encontrando caminhos mais eficientes e
amadurecidos, que inclusive modificaram algumas das composições do trabalho
Cala. A Larissa, que esteve presente também como assistente artística,
cumpriu um papel importante neste preparo, contribuindo com seu olhar e fazer,
tanto no preparo e escolha dos procedimentos quanto nas reflexões das
experiências de cada oficina.
Essa
experiência gerou uma qualidade de envolvimento e conexão entre nós –
artistas, criadoras, bailarinas – que trouxe um amadurecimento para o trabalho
e para a pesquisa artística do núcleo, apontando os caminhos e procedimentos
de criação que seguiremos na segunda etapa. A
finalização desta primeira etapa com o “Workshop para o fazer coreográfico”,
ministrado pela artista convidada Andreia Yonashiro serviu como um ponto de
transição, uma brecha para a reflexão do que está por vir. Campos abertos
de pensamento, mudanças de olhares e focos para a retomada das matrizes.
Importante para abraçarmos o material com uma perspectiva mais ampla do
contexto da dança – do que é, do que pode ser, de seu processo histórico. O
que estamos realizando e para quê? Como estamos fazendo isso? Quais
materialidades manipularemos com as próximas propostas? Fechamos o semestre instigadas.
Das
realizações
Como
consta no projeto, realizamos nesta primeira etapa 10 apresentações,10
oficinas em distintos espaços da Cidade de São Paulo e dois workshops com
artistas convidados (Clarice Lima e Andreia Yonashiro). Nesta temporada
encontramos condições muito peculiares de cada lugar temporariamente habitado
pelo trabalho e pelas propostas com os grupos de pessoas que participaram das
oficinas.
Dentre
tantos aspectos, faço questão de ressaltar a importância da organização da
gestão de cada equipamento público no acolhimento das propostas para a
qualidade do encontro (artistas/público). Esse ponto é essencial pois essas
parcerias (artistas-produção-gestores-público) determinam a potência dos
eventos, tanto da apresentação quanto das oficinas que foram ministradas.
Ficou evidente, para o mim, que nos espaços que tivemos gestores
comprometidos, o público foi maior bem como as estruturas físicas
apresentavam melhor condição para receber o projeto.
Ainda no
campo das parcerias, sublinho a importância do contato com os Artistas
Orientadores (AO) do programa Vocacional. É notável a importância do papel
que esse profissional cumpre, ou pode cumprir, na organização de grupos
interessados, no desenvolvimento e/ou aprofundamento no campo da dança
contemporânea. E, no caso do projeto Rede Cala, que se propõe em distintos
lugares da cidade, nos quais muitas vezes não transitamos, ou nos quais as
formas de contato com público são dificultadas pelo acesso à informação, o
AO atua também como um catalisador, um ponto de contato essencial para a
conexão de uma rede de pessoas que podem se interessar pela proposta
artística do núcleo.
Em
relação às apresentações, os encontros propiciaram compartilhamento intenso
de experiências, frutíferos. Públicos distintos, pessoas que atravessaram
nossos corpos e olhares. Habitaram nossos ambientes, trouxeram seus corpos para
as estações. Textos, olhares, vozes. Presenças cênicas que pudemos assistir
enquanto dançamos/dançávamos. Que disparam lembranças e passam a compor o
campo e o corpo cênico, escarafunchando o artista/pessoa. Registros na
memória. Um diálogo silencioso, às vezes estranho, às vezes acalentador,
afeto, tocado, às lágrimas, às vezes superficial, revelador, silêncio frio,
inquisidor. Às vezes criando um estado de simples existência, de saber estar,
de bicho. Experiências intensas. Às vezes menos. Às vezes reverberando até
agora. Muitas qualidades de atravessamentos.
(janeiro de 2016)
O projeto PLATAFORMA CALA apontou uma nova perspectiva de pesquisa ao Núcleo Mirada. Trata-se de um viés para além da própria dança, visto o interesse no processo de aproximação a outros modos contemporâneos para a estruturação coreográfica. Cabe destacar entre esses modos: A presença de um instrumental virtual, o fator presencial na cidade ,por meio da instauração de lugares criativos,bem como a adoção da residência artística,enquanto lugar para a convivência criativa concentrada.
O Projeto Cala foi realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo,Secretaria da Cultura,Programa de Ação Cultural 08/2013 - CONCURSO DE APOIO A PROJETOS DE PRODUÇÃO DE ESPETÁCULO INÉDITO E TEMPORADA DE DANÇA NO ESTADO DE SÃO PAULO
Criação: Núcleo MIRADA - Elenita Queiroz, Karime Nivoloni, Liana Zakia
Criação: Núcleo MIRADA - Elenita Queiroz, Karime Nivoloni, Liana Zakia
MIRADA foi uma obra de experimentações coreográficas sugeridas pelas relações
entre as artistas envolvidas e o contexto geral da Casa das Caldeiras
(espaço de pesquisa onde o espetáculo foi criado). A partir desse espaço
multifuncional, onde distintas ambientações são criadas e
desconstruídas num piscar de olhos, o trabalho se constrói na
transposição dessa lógica de acontecimentos para o pensamento cênico – a
possibilidade de elaborar e romper momentos, gerando inesperadas
perspectivas. Nesse percurso, as criadoras se debruçaram sobre questões
próprias e também compartilhadas, buscando através da leveza, da
ludicidade e do universo kitsch, o exercício de levantar questionamentos
e insinuar outros olhares.
Através da ironia e da utilização de elementos da cultura pop, Mirada tem a capacidade de estabelecer links de diálogo e aproximação com o público. Esse trabalho, que traz em seu cerne criativo, a interlinguagem, a diversidade e a colaboração, tem apresentado o potencial de expandir a comunicação e as possibilidades de significações simbólicas junto à platéia.
De forma não convencional e irônica, Mirada convida à diversão, à quebra de estruturas e à reflexão.
FICHA TÉCNICA
Criação coletiva: Núcleo Mirada
Integrantes:
Elenita Queiróz
Carina Nagib
Karime Nivoloni
Liana Zakia
Artistas convidados: Marcius Lindner e Cíntia Harumi
Produção e fotos: Tetembua Dandara
Figurinos e cenografia: O grupo
Duração: 60 minutos
Faixa etária recomendada: livre
Tema
e conteúdo: universo feminino, cultura pop, universo kitsch.Gênero e
modalidade: dança contemporânea, teatro e circo, linguagem lúdica.
EPIFANIAS URBANAS Projeto colaborativo do Núcleo Mirada em parceria com a Cia das Atrizes. Contemplado pelo programa Funarte Petrobras Klauss Vianna de Dança 2011 e desenvolvido ao longo de 2012, o projeto se configura enquanto uma rede de ações poéticas na cidade de São Paulo, Brasil.
EPIFANIAS URBANAS Projeto colaborativo do Núcleo Mirada em parceria com a Cia das Atrizes. Contemplado pelo programa Funarte Petrobras Klauss Vianna de Dança 2011 e desenvolvido ao longo de 2012, o projeto se configura enquanto uma rede de ações poéticas na cidade de São Paulo, Brasil.